terça-feira, 19 de março de 2013

REUNIÃO



Povo da terra não tenha medo, nós vimos numa missão de paz, e por que não? Pois somos primos já estivermos aqui uma vez.

Estamos nos aproximando do sistema solar quase tão rapidamente como esta mensagem pelo rádio.

Fomos nós que colonizamos a terra, no reinado dos grandes repteis que estavam perecendo quando viemos e que não pudemos salvar. Esse mundo era então um planeta tropical, e pensamos que daria uma excelente moradia para nossa gente. Estavamos enganados. Embora fôssemos senhores do espaço, muito pouco sabíamos sobre clima, evolução, genética...

Há dois milhões de anos, a terra começou a mudar. Durante milhares de milênios tinha sido um paraíso tropical; depois a temperatura baixou e o gelo começou a descer lentamente dos pólos. A proporção que o clima se alterava também mudavam os colonos. Compreendemos agora que se tratava de uma adaptação natural ao fim do longo verão, mas aqueles que haviam feito da terra o seu lar pelo espaço de tantas gerações acreditavam estar sendo vítima de uma estranha e repulsiva doença. Uma doença que não matava, não causava nenhum dano físico, mas apenas desfigurava.

Entretanto, alguns ficaram imunes; foram poupados, eles e os seus filhos pela mudança. De modo que, no espaço de poucos milênios a colônia se cindiu em dois grupos distintos – quase duas espécies distintas que suspeitavam e tinham ciúmes um do outro.

A divisão trouxe consigo a inveja, a discórdia e finalmente o conflito. A medida que a colônia se desintegrava e o clima ia constantemente piorando, aqueles que puderam fazê-lo retiraram-se da terra. O restante mergulhou no barbarismo.

Podíamos ter-nos mantido contato, mas há tanto que fazer num universo de cem trilhões de estrelas! Até poucos anos atrás não sabíamos se alguns de vocês haviam sobrevivido. Foi então que captamos os seus primeiros sinais de rádio, aprendemos as suas linguagens tão simples e descobrimos que vocês tinham realizado a longa ascensão a partir da selvageria. Aqui vimos para saudá-los, nossos parentes há tanto tempo perdido – e para ajudá-los.

Muitas coisas descobrimos durante os milênios decorridos desde que abandonamos a terra. Se desejam que façamos voltar o eterno verão que aqui reinava antes das épocas glaciais, nós podemos fazê-lo. Acima de tudo , temos um remédio simples para a desagradável, embora inofensiva epidemia que atacou tantos colonos.

Talvez o seu ciclo tinha terminado – mas, em caso contrário, temos boas notícias para lhes dar. Povo da terra, vocês podem reunir-se mais uma vez à sociedade universal sem sentirem vergonha, nem constrangimento.

Se alguns de vocês ainda continuam brancos, nós podemos curá-los

Artur C. Clarke. O vento solar. Porto Alegre: Globo, 1973. P 60.

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