quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O sofrimento Negro


O sofrimento negro. Não é engraçado, nem quando todo mundo esta rindo.
Desde criança eu tentei ser aceita. Alisei meu cabelo, Nunca usei roupas que “não” combinavam com meu tom de pele e é claro o batom vermelho passei longe, tentei ser: “ negra de alma branca”, porque só assim poderia redimir o peso que minha cor trazia socialmente.
Mas mesmo assim eu sempre convivi com piadas, comentários racistas que eram mascarados com o chamado humor.
Qual de nós nunca viu ou presenciou um negro sendo comparado a um macaco, ou a famosa frase tão preto que no escuro só aparecem os dentes, sem esquecer o hino racista: nega do sobaco cabeludo (a questão aqui não é o pêlo).
Todas essas afirmações, piadinhas e até músicas tem a mesma desculpa, é engraçado, foi só uma piada.
Não é. Mesmo se todos riem, mesmo vindo de uma criança, mesmo de qualquer forma. Dói porque deprecia as características negras, e justificar com humor é uma das formas mais covardes de racismo, pois se você contesta passam para você o cálice de racista ou de negro radical. Eu ouvi várias dessas coisas, fiquei sem reação, ri mesmo não tendo achado graça nenhuma,  já fui pra casa chorar depois de ter rido.
Quando seu cabelo é comparado a uma palha de aço, quando dizem que “preto rouba” ,quando sempre o comentário remete a sua cor ou a uma característica física, e isso acontece desde que você se vê enquanto pessoa no grupo social, você acaba achando isso normal, corriqueiro, nos acomodamos com o racismo humorístico.
Mas isso não é engraçado, nem se for feito pelo maior comediante do mundo, essas piadas sempre tentam colocar o negro em uma situação em que ele odeie suas características como eu odiava meu cabelo, e pensava que minha pele não aceitaria qualquer maquiagem que eu quisesse, ainda tenho certa dificuldade em usar alguns tipos de tons (estou trabalhando isso) e achava meu nariz uma aberração. Uma das ditaduras sempre exploradas por pessoas racistas é a ideia que somos feios, o negro é feio e tudo que se remete as nossas características é algo ruim.
E temos que nos atentar quanto a isso, até mesmo a frase humor negro não me é visto com bons olhos já que o termo negro é posto como negativo mais uma vez.
As pessoas têm me achado radical, ultimamente tenho me comportado diferente… Fora dos padrões. Tenho me comportado como uma negra, não aliso  meu cabelo, comecei a usar mais cores nas minhas roupas, e sim passei batom vermelho,  mesmo correndo o risco me internarem já que fui ousada e entrei no mundo de privilégios brancos, quanto as piadinhas … Elas não acabaram, ainda mais que sou: Preta e sapatão, a diferença esta na minha personalidade eu não finjo um humor, não perco meu tempo nem ouvindo, e evidenciei uma falta de graça que sempre existiu, eu não preciso ser aceita, eu me respeito, amo meu cabelo crespo, ah! Quase me esqueço, troquei o vocabulário de ruim, passei a referir ao meu cabelo como crespo tenho orgulho dele e do que ele representa pra mim: LIBERDADE.
Meu nariz então? Nossa, parei de juntar o dinheiro para cirurgia, já que a piada do nariz de assar pão é tão pequena como as piadas racistas, eu me libertei dos rótulos raciais e saí do grupo de negros que “riem” de piadas de negros, sou a dita rebelde, que não aceita piada, a do contra, e não ligo, só quero que consigamos passar para todos desde crianças até adultos que cada pedacinho do nosso corpo conta uma história, que somos lindos e piada relacionada à etnia é racismo, espero que as crianças negras não tentem ser aceitas como eu tentei, não chorem escondido no quarto, e não riam!
Vamos guardar nossos belos sorridos para algo útil, como a aceitação de si, por exemplo, que tira sorridos maravilhosos, dos nossos lindos lábios.
Por Márcia Vasconcelos para as Blogueiras Negras
Retirado na íntegra do site luizcouto.com

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