sexta-feira, 4 de maio de 2012

MORTE DE BATISTINHA E A FALTA DE RECONHECIMENTO DE UM GÊNIO

Jose Batista dos Santos ou Batistinha como era conhecido em Junco do Seridó-PB foi um gênio da escultura e da pintura, nos últimos anos que viveu em Junco tornou-se alcoólatra, mas o brilho de seu trabalho sempre foi maior que qualquer coisa. Confiram abaixo a biografia desse gênio das artes.

A cultura paraibana ficou mais pobre! Faleceu ontem, 03, aos 64 anos de idade o escultor, pintor e mestre da cultura popular José Batista dos Santos Filho, ou simplesmente Seu Batista, como era conhecido pelos amigos. O sepultamento acontecerá hoje, 04, às 12hs, no Cemitério do Monte Santo.

José Batista - fragmentos de uma vida

 

FOTO 01 - Batista esculpindo em  casa (1981)


Filho de José Batista dos Santos e Nely Menezes dos Santos, JOSÉ BATISTA DOS SANTOS FILHO nasceu em 11 de setembro de 1947 no então distrito de Santa Luzia/PB, chamado Junco do Seridó (que veio a se tornar cidade em 1961).
Foi agricultor e até garimpeiro. E em alguns momentos praticava desenho e pintura; começou a desenhar com 6 anos de idade e a pintar com 17 anos.
Viveu em Junco do Seridó durante toda sua infância e boa parte da juventude, quando mudou-se definitivamente para Campina Grande/PB.

Nunca fez um curso ou estudou em qualquer escola de artes, mas desenvolveu um estilo de pintura e principalmente escultura bastante autênticos. 




Depois de muitos anos residindo em Campina Grande, em março de 1981 (encontramos referências contraditarias para esse fato, umas apontando essa data em 1981, outras a data de março de 1982)  passou a frequentar o Ateliê Livre de Arte do Museu de Arte Assis Chateaubriand. Nesse ateliê trabalhou boa parte dos anos 80, não só produzindo peças de arte, mas também repassando seus conhecimentos para alguns jovens pretendentes a artista que então frequentavam o museu.
Chegou a ser reconhecido com um dos artistas mais prósperos que atuava na Paraíba durante a década de 1980. Nesse período, fez diversas exposições em várias cidades do estado.
Tanto na pintura como na escultura, é impossível determinar em qual estilo se insere as obras de Batista.
Em reportagem publicada no Diário da Borborema de 09 de janeiro de 1983, quando questionado sobre sua arte, Batista responde:

“(...) Sua linha de trabalho pende para o ‘clássico’ ou para o ‘modernismo’?
JB – Pende para o ‘clássico’, para o ‘moderno’, ‘surrealismo’, ‘realista’, acadêmico. São essas as técnicas que emprego nos meus trabalhos.”


 FOTO 02 - Batista esculpindo em  casa (1981)



Por trás da fotografia com vista frontal da casa de Batista em 1981 (abaixo), encontramos alguns rabiscos da época com o endereço "rua Santa Luzia, 101, bairro Estação Velha". Percebemos logo que a casa retratada na foto é de numero 30, diferente do endereço apontado nos rabiscos no verso da foto. Ficamos com essa dúvida. Coletamos informações com familiares de Batista e tivemos a confirmação que a casa retratada abaixo (FOTO 03) ficava na "Pedreira do Catolé" (próximo a Av. Canal, próximo ao CEDUC/UEPB), bairro do Catolé, Campina Grande. E que o endereço do rabisco que encontramos se refere a casa onde Batista morava antes de ir para essa "nova", a que foi fotografada.

Nessa época casado com Severina Rodrigues dos Santos (casaram-se em 1969 e separaram-se no papel em 1995, mas na prática já haviam separado possivelmente alguns anos antes), tinham três filhos: Evanize, Evaldo e Expedito.

 
FOTO 03 - Batista em frente a sua casa juntamente com os filhos (1981)


A década de 1980 possivelmente foi a de maior produção artística por parte de Batista. Localizamos em seus arquivos uma série de panfletos desse período, de exposições suas e de outros artistas.
A imprensa também dava certa visibilidade para Batista. Por exemplo, as fotos que inserimos acima foram tiradas pelo fotógrafo Roberto Coura e ilustraram matéria publicada na edição de 14 de junho de 1981 do jornal Gazeta do Sertão.
Para garantir a sobrevivência, Batista, além de artista, exerceu e ainda hoje exerce atividade de pedreiro.
Nunca deixou de pintar e esculpir, apesar das dificuldades financeiras que foi encontrando ao longo dos anos.
A vida de José Batista dos Santos Filho, ou simplesmente Batista, é merecedora de um estudo mais aprofundado que resulte em alguma publicação de maior envergadura.  No momento, nosso objetivo foi de divulgar um pouco (muito pouco é verdade) sobre a vida e o trabalho desse grande homem, bem como levantar algumas possibilidades para trabalhos historiográficos futuros.
Hoje, mora na Rua Cícero Jacinto, Catolé, em Campina Grande. Ainda é um dos maiores artistas da Paraíba, mas sofre com a falta de visibilidade e mercado para suas obras e também pela falta de apoio por parte do poder público e instituições privadas.
Continua produzindo peças inigualáveis. 

Em 2010 pudemos acompanhar a produção de uma maravilhosa e intrigante escultura realizada por Batista no prédio do Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA), nas margens do Açude Velho, centro de Campina Grande . Abaixo seguem as fotos em duas fases da escultura:


 
FOTO 04 – Batista esculpindo no CUCA (19 de fevereiro de 2010)

 
FOTO 05 – Escultura de Batista no CUCA praticamente concluída (fevereiro de 2010)



REFERÊNCIAS:

1 – fontes escritas
·         Jornal Gazeta do Sertão, Campina Grande/PB, 14 de junho de 1981
·         Jornal Diário da Borborema, Campina Grande/PB, 09 de janeiro de 1983
·         Certidão de Casamento de José Batista com Severina Rodrigues

2 – fotografias
·         FOTO 01 - Batista esculpindo em casa (1981)
·         FOTO 02 - Batista esculpindo em casa (1981)
·         FOTO 03 – Batista em frente a sua casa juntamente com dois filhos (1981)
·         FOTO 04 – Batista esculpindo no CUCA (19 de fevereiro de 2010)
·         FOTO 05 – Escultura de Batista no CUCA praticamente concluída (fevereiro de 2010)

Observação: Com exceção das fotografias 04 e 05 (de nossa autoria), todas as outras fontes fazem parte do arquivo pessoal de Batista


2 comentários:

  1. José Batista, um verdadeiro mestre da cultura.

    Texto acima faz parte de uma série de textos escritos pelo historiador HERBERT DE ANDRADE OLIVEIRA, a partir de uma vasta pesquisa biográfica sobre "Batistinha"
    Ver = historicospontos.blogspot.com

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  2. Tive a felicidade de conhecer o Batista em 1982, quando, pela primeira vez, entrei no Museu de Arte Assis Chateaubriand. Era uma pessoa doce, amável e de voz mansa. Sempre com um sorriso simples demonstrando está feliz pela arte que fazia: preenchendo as suas telas com figuras exóticas, extraindo de troncos velhos cabeças de homens, mulheres, crianças e animais tudo bem sertanejos, ou até mesmo tocando o seu acordeom nas horas vagas.
    E para mim a lembrança que mais me toca particularmente foi o fato de ter sido ele que, de forma indireta, me apresentou a uma bela jovem pela qual me apaixonei e que hoje é minha esposa.
    Em 1985, saí de Campina Grande e fui morar em Salvador e hoje resido em Brasília.
    Hoje, 13 de setembro, tornou-se um dia triste para mim por dois motivos: a partida dessa pessoa maravilhosa e a inexistência do devido reconhecimento do ser humano e artista que ele foi. Mas espero que ao menos as suas obras, fruto de sua alma, sejam preservadas e levadas a sério pelos órgãos de cultura paraibanos.
    Obrigado Batista e descanse em paz meu amigo.
    Antonio Carlos de Souza

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