O assunto da legalização das drogas está em evidência mundo
a fora, alguns países inclusive já legalizaram o uso medicinal e recreativo da
maconha, é o caso da Holanda. Nos EUA 19 dos 50 estados americanos legalizaram
o uso medicinal da Cannabis sativa e
dois deles foram mais longe e liberam o uso recreativo da erva.
O assunto é
cada vez mais polêmico, no Brasil, intelectuais e políticos famosos, com o
ex-presidente Fernando Herinque Cardoso, é favorável a liberação da maconha. Revistas
importantes do país com a mensal Superinteressante uma das melhores revista de
conhecimento do mundo e a Época uma
revista semanal das organizações Globo, abordam o assunto com frequência.
Queiramos
ou não, contra ou a favor, uma coisa é certa a discussão está apenas começando.
E com tudo isso poderá ter um avanço na terrível guerra contra as drogas que
mata milhares de pessoas todo ano e não diminui o consumo muito menos o tráfego.
Segue abaixo reportagem na integra que aborda muito bem o
assunto. A matéria foi Publicada
no site da Revista
Superinteressante em 03 junho de 2013 de autoria do jornalista Denis Russo
Burgierman (Diretor de redação da Superinteressante).
O Problema é a Jaula
As leis que temos hoje proibindo as drogas foram em grande parte
inspiradas por pesquisas científicas realizadas nos Estados Unidos na década de
1960 com ratinhos presos em gaiolas. Cada ratinho ficava trancado sozinho em
uma jaula pequena, com um canudo preso a uma veia. A cada vez que o bicho
puxava uma alavanca, uma dose de morfina, heroína ou cocaína era despejada em
sua corrente sanguínea. Os resultados eram assustadores: a maioria dos animais
se afundava nas drogas. Alguns passavam o dia inteiro puxando as alavancas e
ficavam tão viciados que se esqueciam de comer e beber e acabavam morrendo de
fome. Conclusão: drogas são substâncias mortíferas, que causam dependência
severa e matam.
Bom, se ratinhos saudáveis transformam-se em zumbis com uma dose, o
mesmo deve acontecer com humanos, certo? Melhor então proibir tudo e punir
severamente os infratores, para evitar que meninos e meninas tenham o mesmo
destino desses pobres roedores. É essa a lógica da política de Guerra às
Drogas.
Aí, no final dos anos 70, um psicólogo canadense chamado Bruce
Alexander teve uma ideia. Ele resolveu repetir o experimento, mas,
em vez de trancar as cobaias numa solitária, construiu um parque de diversões
para os bichinhos – o Rat Park. Tratava-se de uma área enorme, de quase 100
metros quadrados, cheia de brinquedos, túneis, perfumes, cores e, o mais
importante, habitada por 16 ratinhos albinos. Ratos brancos, como humanos, são
seres sociais – adoram brincar uns com os outros. Eles são muito mais felizes
em grupo. Outros 16 ratinhos tiveram sorte pior – foram trancados nas jaulas
tradicionais, sem companhia nem distração. Ambos os grupos tinham acesso livre
a dois bebedores – um jorrando água e o outro, morfina.
Os ratos engaiolados fizeram o que se esperava deles: drogaram-se até
morrer. Mas os do Rat Park não. A maioria deles ignorou a morfina. Podendo
escolher entre morfina e água, os ratinhos do parque no geral preferiam água.
Mesmo quando os ratos do Rat Park eram forçados a consumir morfina até virarem
dependentes, eles tendiam a largar o hábito assim que podiam. O consumo da
droga entre eles foi 19 vezes menor do que entre os ratinhos enjaulados.
Ou seja, o problema não é a droga: é a jaula. O que é irônico considerando
que nossa política de drogas tem como premissa justamente enjaular na cadeia os
dependentes.
Hoje entende-se bem como funciona a química da dependência no cérebro. O
centro da questão é um químico chamado dopamina, o principal neurotransmissor
do nosso sistema de recompensa. Quando animais sociais ficam isolados e sem
estímulos, seus cérebros secam de dopamina. Resultado: um apetite enorme e
insaciável pela substância. Drogas – todas elas – têm o poder de aumentar os
níveis de dopamina no cérebro, aliviando essa fissura. O nome disso é
dependência.
Ou seja, não é a droga que causa dependência – é a combinação da droga
com uma predisposição. E o único jeito de curar dependência é curar essa
predisposição: dando a esse sujeito uma vida melhor, como Bruce Alexander fez
com os ratinhos do Rat Park.
Hoje a maioria dos países desenvolvidos entendeu isso e criou políticas
públicas de cuidado e acolhimento para resolver o problema da droga. O melhor
exemplo disso é Portugal, que há apenas dez anos vivia uma emergência pública
com um surto de dependência em heroína, e hoje é considerado inspiração para o
mundo em termos de políticas de drogas bem sucedidas. O que Portugal fez foi
abrir consultórios nas cracolândias de lá, com um atendimento de boa qualidade,
que trata os dependentes com respeito, tenta enriquecer suas vidas, estimula o
convívio social, incentiva-os a buscar ajuda, oferece a eles ambientes
tranquilos, acolhedores. Os resultados
foram espetaculares.
Mas, enquanto o mundo muda em resposta às novas descobertas científicas,
o Brasil continua endurecendo suas leis. Em vez de buscar inspiração em
Portugal, copia experiências das ditaduras da Ásia, com cadeia, imposição de
tratamento, até mesmo conversão forçada a certas igrejas, que recebem dinheiro
público para “tratar” drogados usando a Bíblia. Um político paulista disse que
sua estratégia para resolver o problema na cracolândia era causar “dor e
sofrimento” para expulsar os dependentes de lá – ou seja, aumentar o estresse.
É justamente a receita para matar ratinhos. E para aumentar o consumo de
drogas.
Fonte original da matéria: http://super.abril.com.br/blogs/mundo-novo/2013/06/03/o-problema-e-a-jaula/
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